Em 134 a.C., um estudante confucionista Dong Zhongshu (179-104 a.C.) convenceu o imperador Han Wudi (que reinou entre 140-87 a.C.) da dinastia Han Ocidental a elevar o Confucionismo à posição de ideologia oficial do estado.
O pensamento Confucionista torna-se então a filosofia dominante na China por um longo período de tempo, exercendo um influência profunda na vida social e na cultura tradicional chinesa.
O Confucionismo e a Medicina Tradicional Chinesa estão intrinsecamente conectados. Ocupando a sua posição no coração da cultura chinesa, o Confucionismo influencia cada aspecto da MTC, sobretudo no que respeita a valores médicos e éticos.
1. MTC e o Conceito Confucionista de Benevolência Ren
Um dos principais pilares do Confucionismo é o conceito de Ren (Benevolência).
O conceito de Benevolência ocupa o centro na cultura Confucionista, e o seu grande valor mantém-se até aos dias de hoje.
O significado essencial de Benevolência é amar os outros. Em primeiro lugar, as pessoas amam a sua própria família, e só depois expandem o seu amor, tendo como alvo o resto do mundo.
Benevolência significa criar empatia, ser gentil, bondoso, amável, ampliando o conceito de família, para nela incluir toda a humanidade. Esta atitude revela a existência de auto-conhecimento (self-awareness) e de um entendimento da natureza humana, assim como um profundo espírito de humanitarismo.
A essência do amor benevolente é o reconhecimento do intrínseco valor dos outros (de todos), e a capacidade de ver que "eles" não são realmente diferentes de "nós".
Os antigos sábios chineses acreditavam que o contínuo processo de cura (à responsabilidade daqueles que o praticam) é uma expressão de Ren (Benevolência). A visão confucionista de Benevolência dá ênfase à cultivação no sentido de harmonizar o indivíduo e regular o estado. Do mesmo modo, a Medicina Tradicional Chinesa enfatiza o tratamento da doença de forma a harmonizar o corpo e salvar vidas.
"O médico medíocre cura a doença, o médico mediano cura pessoas; o médico superior cura o estado".
Esta afirmação realça a importância da saúde individual e social, o que faz com que o Confucionismo e a Medicina Tradicional Chinesa partilhem os mesmos valores.
A MTC atribuí extrema importância à ética pessoal e profissional assente em princípios Confucionistas.
Somente pessoas da mais elevada integridade e habilidade eram consideradas qualificadas para praticar medicina.
Médicos que seguiam filosofia de Confúcio
- Hua Tuo (? - 208 d.C.) foi um eminente médico Confucionista da dinastia Han Oriental, conhecido como o Divino Médico.
- Sun Simiao (581-682 d.C.), conhecido como o Sábio da Farmácia, foi um médico eminente que viveu durante a dinastia Tang (618-907 d.C.). Na sua enciclopédia Bei Ji Qianjin Yaofang (Prescrições para Emergências que Valem Mil Peças de Ouro), Su Simiao descreve a estreita correspondência entre a ética médica em MTC e o conceito Confucionista de amor Benevolente.
- Zhang Zhongjing (150-219 d.C.) foi um eminente médico que viveu no final da dinastia Han Oriental, numa época em que guerra e caos se prolongaram. Confrontado com o aparecimento descontrolado de muitas doenças, de causas variadas e acompanhadas de uma miséria nunca antes vista, Zhang Zhongjing dedicou-se à compilação e redefinição de todo o conhecimento médico que até então existia. O seu trabalho de prática clínica em MTC, Shang Han Zabing Lun (Tratado pelo ataque de Frio e Diversas Patologias) é considerado um dos clássicos de MTC.
- Li Shizhen (1518-1593 d.C.), um famoso estudante de medicina da dinastia Ming, reconheceu a existência de fórmulas fitoterapêuticas que continham numerosos erros potencialmente fatais. Determinado a rectificar esta situação, passou 30 anos recolhendo incansavelmente material de toda a China, extraindo conteúdos de mais de 800 textos especializados. O resultado deste árduo trabalho originou o clássico enciclopédico de medicina herbal Bencao Gangmu (Compêndio de Matéria Médica), considerado uma obra de valor benéfico incalculável para a Humanidade.