segunda-feira, 7 de novembro de 2016

CONFUCIONISMO E MEDICINA CHINESA


A escola de pensamento Confucionista foi fundada por Kongzi (Confúcio) (551-479 a.C.) no final  da dinastia do Período da Primavera e Outono (770-476 a.C.).
Em 134 a.C., um estudante confucionista Dong Zhongshu (179-104 a.C.) convenceu o imperador Han Wudi (que reinou entre 140-87 a.C.) da dinastia Han Ocidental a elevar o Confucionismo à posição de ideologia oficial do estado.
O pensamento Confucionista torna-se então a filosofia dominante na China por um longo período de tempo, exercendo um influência profunda na vida social e na cultura tradicional chinesa.

O Confucionismo e a Medicina Tradicional Chinesa estão intrinsecamente conectados. Ocupando a sua posição no coração da cultura chinesa, o Confucionismo influencia cada aspecto da MTC, sobretudo no que respeita a valores médicos e éticos.

1. MTC e o Conceito Confucionista de Benevolência Ren


Um dos principais pilares do Confucionismo é o conceito de Ren (Benevolência). 
O conceito de Benevolência ocupa o centro na cultura Confucionista, e o seu grande valor mantém-se até aos dias de hoje.

O significado essencial de Benevolência é amar os outros. Em primeiro lugar, as pessoas amam a sua própria família, e só depois expandem o seu amor, tendo como alvo o resto do mundo.
Benevolência significa criar empatia, ser gentil, bondoso, amável, ampliando o conceito de família, para nela incluir toda a humanidade. Esta atitude revela a existência de auto-conhecimento (self-awareness) e de um entendimento da natureza humana, assim como um profundo espírito de humanitarismo.
A essência do amor benevolente é o reconhecimento do intrínseco valor dos outros (de todos), e a capacidade de ver que "eles" não são realmente diferentes de "nós".


Os antigos sábios chineses acreditavam que o contínuo processo de cura (à responsabilidade daqueles que o praticam) é uma expressão de Ren (Benevolência). A visão confucionista de Benevolência dá ênfase à cultivação no sentido de harmonizar o indivíduo e regular o estado. Do mesmo modo, a Medicina Tradicional Chinesa enfatiza o tratamento da doença de forma a harmonizar o corpo e salvar vidas.

"O médico medíocre cura a doença, o médico mediano cura pessoas; o médico superior cura o estado". 

Esta afirmação realça a importância da saúde individual e social, o que faz com que o Confucionismo e a Medicina Tradicional Chinesa partilhem os mesmos valores. 
A MTC atribuí extrema importância à ética pessoal e profissional assente em princípios Confucionistas.

Somente pessoas da mais elevada integridade e habilidade eram consideradas qualificadas para praticar medicina. 


Médicos que seguiam filosofia de Confúcio
  • Hua Tuo (? - 208 d.C.) foi um eminente médico Confucionista da dinastia Han Oriental, conhecido como o Divino Médico.

  • Sun Simiao (581-682 d.C.), conhecido como o Sábio da Farmácia, foi um médico eminente que viveu durante a dinastia Tang (618-907 d.C.). Na sua enciclopédia Bei Ji Qianjin Yaofang (Prescrições para Emergências que Valem Mil Peças de Ouro), Su Simiao descreve a estreita correspondência entre a ética médica em MTC e o conceito Confucionista de amor Benevolente.


  • Zhang Zhongjing (150-219 d.C.) foi um eminente médico que viveu no final da dinastia Han Oriental, numa época em que guerra e caos se prolongaram. Confrontado com o aparecimento descontrolado de muitas doenças, de causas variadas e acompanhadas de uma miséria nunca antes vista, Zhang Zhongjing dedicou-se à compilação e redefinição de todo o conhecimento médico que até então existia. O seu trabalho de prática clínica em MTC, Shang Han Zabing Lun (Tratado pelo ataque de Frio e Diversas Patologias) é considerado um dos clássicos de MTC.

  • Li Shizhen (1518-1593 d.C.), um famoso estudante de medicina da dinastia Ming, reconheceu a existência de fórmulas fitoterapêuticas que continham numerosos erros potencialmente fatais. Determinado a rectificar esta situação, passou 30 anos recolhendo incansavelmente material de toda a China, extraindo conteúdos de mais de 800 textos especializados. O resultado deste árduo trabalho originou o clássico enciclopédico de medicina herbal Bencao Gangmu (Compêndio de Matéria Médica), considerado uma obra de valor benéfico incalculável para a Humanidade. 







quarta-feira, 2 de novembro de 2016

TERAPIA COM VENTOSAS


A Terapia com Ventosas (cupping) é uma antigo método terapêutico - que se fundamenta de acordo com os princípios de Medicina Tradicional Chinesa - no qual o terapeuta coloca uma espécie de copos na superfície da pele durante alguns minutos, criando um efeito de sucção. As ventosas permanecem no corpo durante um período de tempo entre 3 a 10 minutos.
Este método é realizado por diversos propósitos: aliviar dor, tratar inflamação, melhorar circulação sanguínea, promover relaxamento e bem-estar e como um tipo de massagem que actua em tecidos mais profundos.

De que materiais são feitas as Ventosas?
- Vidro;
- Bambo;
- Terracota;
- Plástico;
- Silicone.

A Terapia com Ventosas parece estar agora na moda ou ser um método inovador, mas na verdade é bem antigo. Basta recuarmos a uma ou duas gerações, para se saber que até há bem pouco tempo, os médicos (mesmo no Ocidente) prescreviam o tratamento com ventosas, que seria feito em casa, pelos próprios pacientes. Não será invulgar encontrarmos uns copos de vidro, à partida estranhos, em casa dos nossos avós. 


Pois bem, os primeiros registos desta antiga prática remontam às antigas civilizações Egípcia, Chinesa e do Médio Oriente. Um dos mais antigos textos médicos do mundo, o Ebers Papyrus, descreve como os antigos Egípcios utilizavam a Terapia com Ventosas em 1550 a.C.

Tipos de Terapia com Ventosas

Existem diferentes métodos que se podem agrupar numa de duas categorias: 
- método seco (dry) ou método húmido (wet).

Em qualquer um dos métodos, o terapeuta introduz na ventosa uma substância inflamável tal como álcool, ervas ou papel e ateia-lhe fogo. Logo, de imediato, a ventosa é colocada no corpo do paciente, ficando a abertura da ventosa em contacto com a pele. Assim que o ar no interior da ventosa arrefece, cria-se o vácuo. Isto faz com que a pele suba e se torne avermelhada enquanto os vasos sanguíneos desse local se expandem. A ventosa permanece no local durante pelo menos 3 minutos. 

Uma versão mais moderna desta terapia, utiliza uma bomba de borracha em vez do fogo para criar efeito de vácuo no interior da ventosa. Por vezes, utilizam-se ventosas de plástico ou silicone, as quais se podem mover na pele, de um lado para o outro, assemelhando-se a um efeito de massagem.

No método húmido, cria-se uma ligeira sucção durante 3 minutos. Depois, o terapeuta remove a ventosa e utiliza um pequeno bisturi fazendo leves e minúsculos cortes na superfície da pele. De seguida, o terapeuta coloca novamente a ventosa, no mesmo local, extraindo uma pequena quantidade de sangue.


Numa primeira sessão, poderão ser colocadas entre 3 a 5 ventosas. Ou o paciente poderá optar por experimentar apenas uma e sentir o seu efeito. Normalmente, e numa única sessão, são colocadas entre 5 a 7 ventosas. Ao terminar, o terapeuta utiliza um algodão embebido numa solução dérmica, anti-séptica e bactericida, para prevenir infecções. A pele do paciente voltará a ter o seu aspecto normal ao fim de 10 dias (no máximo).

O método húmido com ventosas parece remover substâncias prejudiciais e toxinas do corpo e promover o processo curativo.

Alguns pacientes são tratados com o método de agulha (needle cupping), no qual o terapeuta insere, em primeiro lugar, agulhas de acupunctura e depois coloca as ventosas por cima (permanecendo a agulha no seu interior).

Na China, a Terapia com Ventosas é preferencialmente utilizada em condições tais como:
- bronquite, asma e congestão nasal;
- desordens gastrointestinais;
- certos tipos de dor;
- depressão;
- redução de edema/inchaço localizado.
Frequentemente, as ventosas são colocadas no pescoço, ombros, costas e abdómen; nos membros superiores e inferiores com menor frequência.


Resultados demonstrados pela Investigação Científica

No que diz respeito a Terapia com Ventosas, a investigação não é muito extensa, no entanto é possível encontrar publicações relativas aos seus efeitos:

- Um relatório publicado no ano 2015, em The Journal of Traditional Chinese and Complementary Medicine, refere que este tratamento pode ajudar nas condições de 
acne, herpes zoster e no controlo da dor;

- Outro relatório, este de 2012, publicado em PLoS One, investigadores australianos e chineses fizeram uma revisão a 135 estudos sobre Terapia com Ventosas. Eles concluíram que este método é efectivo especialmente quando o paciente recorre simultaneamente a outros tratamentos, tais como acupunctura ou fitoterapia, para várias condições, tais como:

  • Herpes zoster;
  • Acne;
  • Paralisia facial;
  • Espondilose cervical (problema causado pelo desgaste dos discos da coluna vertebral que leva a uma diminuição do espaço entre as vértebras cervicais, neste caso);


- A British Cupping Society diz que a Terapia com Ventosas utiliza-se no tratamento de:

  • Desordens do sangue, tais como anemia e hemofilia;
  • Doenças reumáticas como artrite e fibromialgia;
  • Fertilidade e desordens ginecológicas;
  • Problemas de pele como eczema e acne;
  • Hipertensão arterial;
  • Enxaquecas;
  • Ansiedade e depressão;
  • Congestão brônquica causada por alergias e asma;
  • Veias varicosas.

Efeitos Secundários
A Terapia com Ventosas é bastante segura, desde que realizada por um profissional de saúde qualificadoÉ natural que, nos locais onde as ventosas são colocadas na pele, o paciente tenha sensação de pele dorida, hematomas, pele avermelhada ou arroxeada. Como referido anteriormente, a pele do paciente voltará a ter o seu aspecto normal ao fim de 10 dias (no máximo).


Contra-indicações

Apesar dos seus inúmeros benefícios, a Terapia com Ventosas não deverá ser aplicada nas seguintes situações:

  • pele inflamada por lesões cutâneas;
  • febre alta ou convulsões;
  • pacientes com problemas hemorrágicos;
  • grávidas, no abdómen ou zona lombar;
  • se é utilizado o método de deslizamento de ventosas, estas não devem cruzar zonas onde os ossos são mais proeminentes, como zona da coluna vertebral ou o zona das omoplatas.


Adaptado de:

Cupping Therapy, David Kiefer, MD, Agosto 2016, WebMD Medical Reference

Cupping, Acupuncture Today